Eu não sou eu
nem sou o outro
sou qualquer coisa de intermédio
pilar da ponte de tédio
que vai de mim para o outro
(Mário de Sá Carneiro)
Somos estrangeiros de nós mesmos, a nossa alma está vendida ao diabo desde sempre. Não nos conhecemos e sempre que o tentamos fazer, fugimos ... porque acabamos por nos assustar com aquilo que vemos, quem procura encontra e aqui a maior parte não procura muito para não encontrar demasiado.
Vivemos agrilhoados áquilo que nos rodeia, ás coisas, ás pessoas, á sociedade.
Baudelaire dizia que deviamos andar bêbados. Esta era a única solução para não sentirmos o fardo do tempo, da vida que carregamos sobre os ombros e que nos verga ao encontro da terra. Dia a dia, vivemos paredes meias com o tédio e o que é que fazemos para mudar? Nada , optamos pela escolha embriagada.
O Estrangeiro
- De quem gostas mais? Diz lá, estrangeiro.
De teu pai, de tua mãe, de tua irmã ou do teu irmão?
- Não tenho pai, nem mãe, nem irmãos.
- Dos teus amigos?
- Eis uma palavra cujo sentido sempre ignorei.
- Da tua pátria?
- Não sei onde está situada.
- Da beleza?
- Amá-la-ia de boa vontade se a encontrasse.
- Do oiro?
- Odeio-o tanto quanto vós a Deus.
- Então que amas tu singular estrangeiro?
- Amo as nuvens... as nuvens que passam... as maravilhosas nuvens!
(Baudelaire)
"Lignum tortum haud unquam rectum"
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