Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
E com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de querer tanto
Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim o castigo
Eu não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo
Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desepero
Que tenho de te nao ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chao
Estendo o meu xaile
E deixo-me adormecer
Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorrar
Por uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegría
Me deixaria matar
Lembra-te que a verdadeira lágrima
não é a que cai dos olhos
e escorre pela alma...
Essa lágrima não precisará ser lembrada,
Há quase dois anos que não escrevo nada aqui. E hoje perguntaram-me se já tinha retomado a escrita ... e pensei "onde é que tu te meteste este tempo todo???". Parece que andava perdida por ai e a avaliar pelo momento ainda devo estar e sabe-se lá quando é que me encontro. Talvez quem sabe um dia destes ou talvez nunca me encontre, o que faz de mim um ser errante e inconformada com a existência. Porquê? Sei lá, porque passeamos com um dormência brutal pela vida sem nos dar-mos conta de que estamos vivos e presos ao tempo?
A ausência de tudo faz sentido, agora que penso nisto.
Mas será que inventamos o nada para fugirmos ao vazio de nós mesmos? Ou por outro lado, somos antes engolidos pelo vazio do nada numa existência aparentemente sem rumo?
Será que esta espécie de desnorte numa falsa existência não é fruto do desencontro de nós mesmos com esse nada que é tudo?
Sinto-me perdida, sem rumo e num estado de apatia, não diria total, mas anda lá perto. Por vezes, cruzam-se na nossa vida situações que nos fazem questionar se este é o meu verdadeiro eu. Será que vale a pena lutar ou simplesmente desistir quando não restam forças?? Mas depois, a natureza fala mais alto e diz que não, desistir é mesmo a útima etapa da vida, deixar-me levar ... só mesmo quando não conseguir mais agarrar-me à corda, ai deixar-me-ei cair e cair até sentir uma paz total a apoderar-se de mim.
Ando mesmo perdida na multidão à procura daquela luz que eu, tu, nós sabemos que existe e que nos faz andar a deambular por ai, como se não houvesse amanhã.
Afinal o que sou, o que é que quero, para onde vou ....????
Um momento de vertigem que percorre o corpo e a alma e me fez temer a mim mesma, porque lá no fundo todos sabemos a resposta.
Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.
E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por cousa esquecida.
Fernando Pessoa
Quando se trata de fidelidade, devoção, amor, muitos humanos estão aquém dos animais domésticos ou selvagens. Que maravilhoso seria, se no fim da nossa caminhada, pudessemos ao menos ter a pretensão de nos surpreender a nós e aos outros como eles. Mas ainda assim, consideramo-los 'apenas animais!'.
Como é que alguém pode dormir descansado quando os valores do respeito pelos seres vivos tomam a forma de casacos, malas e até desporto? Como é que alguém que semeia a morte e o sofrimento pode querer colher alegria e amor?
"Por que é que o sofrimento dos animais me comove tanto? Porque fazem parte da mesma comunidade a que pertenço, da mesma forma que os meus próprios semelhantes."
Émile Zola
Simplesmente impressionante!!
" E como poderia eu negar que estas mãos e este corpo são meus, a não ser que me compare a certos insensatos cujo cérebro é tão perturbado e ofuscado pelos negros vapores da bilis, que constantemente asseguram ser reis, quando são muito pobres, estar vestidos de ouro e púrpura, quando estão nus, ou imaginar ser cântaros ou ter um corpo de vidro? Mas, qual! Estes são loucos, e eu não seria menos extravagante se me guiasse pelos seus exemplos".
Descartes, Meditações
A loucura, como retrata esta pintura de Hieronymus Bosch, parece distante e por vezes ficticia aos olhos da nossa realidade. No entanto, ao nivel da psicanálise esta pode surgir logo na infância, quando a criança no processo de subjugação à autoridade dos pais, vai modelando o seu eu interior, ou seja, há uma auto-traição, ela nega-se a si mesma e a forma como se vê passa a ser a forma como os pais a querem ver.
Agora, transportando isto para o adulto (e aqui esta personagem acompanhou-o na sua cavalgada insessante pela vida), damo-nos conta que afinal esta realidade não estava tão distante assim.
Ela habita paredes-meias connosco. Visita-nos constantemente. Quantas pessoas não perderam o contacto com o seu eu interior, criando desta forma, um eu falsificado? Ou ainda de outro modo, quantos de nós não encarnamos a personagem que os outros querem ver em nós?
É verdade, e aqui parafraseando o prof. Fernando José Bronze, que estamos constantemente a afivelar máscaras. Sejam elas a de professora, aluna, colega, esposa, irmã, filha, etc. Mas também é verdade, que não podemos esconder as nossas vivências, percepções e sentimentos genuínos com que constantemente nos deparamos. É neste ciclo constante, do afivelamento de máscaras, que chegamos a um ponto em que verdadeiramente não sabemos quem somos, recalcamos de tal maneira a nossa verdadeira identidade que passamos a ser só por ser. É como se já estivessemos mortos mas sem saber.
Não será este relacionamento estranho com a sociedade que faz de nós mais loucos que os ditos loucos? Será a razão assim tão distante da sua madrasta loucura, ou serão simples irmãs zangadas e de candeias ás avessas com a vida?
Apelidamos de loucos aqueles cujas suas atitudes desvirtuam a dita razão, o convencional, e se afastam dos padrões "correctos e normalizados" mas será que aquele afastamento das nossas raizes humanas não será ele um vil ardil da negação de quem realmente somos? Ou será mais, a forma facilitada de fugirmos e ocultarmos os verdadeiros sentimentos humanos?
Talves, e caso optassemos por uma resposta positiva a estas questões, encontrassemos aqui, quem sabe, a razão pela qual é mais fácil odiar os outros, matar e voltar costas ao semelhante quando na realidade o que fazemos, é evitar o confronto connosco, com o nosso eu mais intimo.
Não será esta revolta,o ódio,o medo a si próprio que provoca este afastamento convulso do nosso ente querido?
Talves fosse mais fácil fazermos o processo de dentro para fora, sem vergonhas nem complexos. Como também referiu um professor meu de ontologia, é incompreensivel que o Homem tenha a pretensão de conhecer o universo quando ainda nem se conhece a si mesmo. Como é que podemos compreender os outros se constantemente fechamos a janela da nossa alma a nós e ao mundo?
Não somos quem queriamos ser, não fazemos o que desejámos fazer, enfim, sempre muitos nãos e poucas vezes sim.
Talves por isso, fiquemos surpreendidos quando alguém que consideravamos "de bem", "normal", "racional" de repente mata, viola ou rouba sem sabermos muito bem porque é que fez isso. Pois, na realidade, essa pessoa deixou cair a máscara sorridente e algumas vezes filantrópica e deixa destapado o horror que ocultava. Não será a loucura tudo isto? Ou melhor, não será a loucura um modo de vida?
É nesta fase terminal, aquela em que já não conseguimos colocar as máscaras e acabamos num protesto demoniaco contra tudo e todos.
Edvard Munch, Van Gogh, Schubert, Einstein, Nietzsche, etc, etc,etc, todos eles loucos, mas loucos saudáveis porque conseguiram dentro da sua loucura inteligente estravazá-la, de forma, a não serem consumidos por ela, e ... eis que o monstro sai sob a forma da mais bela arte. Como acima referi, também existiram aqueles cuja sua loucura teve frutos, mas que devastaram a humanidade e que não a sabendo manusear saiu sob a forma de terror. O individuo ao contrário daqueles cuja loucura é inspiração, porque deu-se a catarze, estes simplesmente largaram o monstro sem lhe ter posto as devidas rédeas.
É esta força criativa de se opôr à fraude que fá-los maiores e mais lúcidos que a maior parte de nós, cidadãos bem comportados, cuja virtude maior é a sanidade à semelhança Dos Tempos Modernos de Charlie Chaplin onde somos parte integrante da máquina. Em suma, os movimentos são sempre os mesmos, tanto ao nivel da esteira politica, religiosa...
Presépio de lata
(Carlos Tê / Rui Veloso)
Três estrelas de alumínio
A luzir num céu de querosene
Um bêbedo julgando-se césar
Faz um discurso solene
Sombras chinesas nas ruas
Esmeram-se aranhas nas teias
Impacientam-se gazuas
Corre o cavalo nas veias
Há uma luz branca na barraca
Lá dentro uma sagrada família
À porta um velho pneu com terra
Onde cresce uma buganvília
É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells,
Oiçam um choro de criança
Será branca negra ou mulata
Toquem as trompas da esperança
E assentem bem qual a data
A lua leva a boa nova
Aos arrabaldes mais distantes
Avisa os pastores sem tecto
Tristes reis magos errantes
E vem um sol de chapa fina
Subindo a anunciar o dia
Dois anjinhos de cartolina
Vão cantando aleluia
É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells,
Nasceu enfim o menino
Foi posto aqui à falsa fé
A mãe deixou-o sozinho
E o pai não se sabe quem é
É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells
A todos um santo e feliz natal e que apesar de toda a euforia materialistica desta época, se lembrem sempre dos milhões de presépios de lata que há pelo mundo .... e mesmo que nada possamos fazer, pelo menos não nos queixemos de barriga cheia, passo o plebeismo.
Um bom natal e um Ano de 2008 cheio daquilo que quiserem.
Eu não sou eu
nem sou o outro
sou qualquer coisa de intermédio
pilar da ponte de tédio
que vai de mim para o outro
(Mário de Sá Carneiro)
Somos estrangeiros de nós mesmos, a nossa alma está vendida ao diabo desde sempre. Não nos conhecemos e sempre que o tentamos fazer, fugimos ... porque acabamos por nos assustar com aquilo que vemos, quem procura encontra e aqui a maior parte não procura muito para não encontrar demasiado.
Vivemos agrilhoados áquilo que nos rodeia, ás coisas, ás pessoas, á sociedade.
Baudelaire dizia que deviamos andar bêbados. Esta era a única solução para não sentirmos o fardo do tempo, da vida que carregamos sobre os ombros e que nos verga ao encontro da terra. Dia a dia, vivemos paredes meias com o tédio e o que é que fazemos para mudar? Nada , optamos pela escolha embriagada.
O Estrangeiro
- De quem gostas mais? Diz lá, estrangeiro.
De teu pai, de tua mãe, de tua irmã ou do teu irmão?
- Não tenho pai, nem mãe, nem irmãos.
- Dos teus amigos?
- Eis uma palavra cujo sentido sempre ignorei.
- Da tua pátria?
- Não sei onde está situada.
- Da beleza?
- Amá-la-ia de boa vontade se a encontrasse.
- Do oiro?
- Odeio-o tanto quanto vós a Deus.
- Então que amas tu singular estrangeiro?
- Amo as nuvens... as nuvens que passam... as maravilhosas nuvens!
(Baudelaire)
"Lignum tortum haud unquam rectum"
É lá longe que cenas como esta acontecem?
É esta ignorância aproveitada pelo fanatismo de alguns povos (arriscava-me a dizer quase todos) o retrato do nosso mundo.
Aconteceu, acontece e continuará a acontecer se continuarmos a fechar os olhos a noticias como a da rapariga de 17 anos que foi apedrejada até á morte em Mosul no Iraque.
Como é que influentes autoridades espirituais contemporâneas continuam a nada fazer quando o problema vem do foro teológico, ou como queiram, da moral. Vivemos numa sociedade global, onde á imagem de pequenos agregados desta (por exepmplo: Portugal ou outro sitio qualquer), ou seja, os calcanhares de Aquiles das sociedades, também os países onde este tipo de atrocidades acontecem são os calcanhares de Aquiles desta sociedade global que é o mundo em que vivemos. Estes pequenos roedores, são esquecidos e relembrados quando se trata de uma qualquer riqueza que tenham. são postos á margem dos problemas mundiais. Também para quê tanto alarido quando o pequeno problema é a morte de algumas mulheres que ousam fazer o que a sua vontade ordenou. Ups mas elas não têm vontade, nem quereres nem nada, o que elas têm é maridos, pais e irmãos que as conduzem, que as guiam na sua infinita sabedoria.
Verdade seja dita, qual é o mal de cortarem o clitoris ás criancitas? o que interessa é que não se corte o pénis dos rapazitos e futuros senhores de bem, que carregam a grande mala da moral.
Mas talvez os lideres religiosos tenham o bom senso de pôr termo a isto ... não isso não, era demasiada responsabilidade para os bons senhores que têm de deixar fazer-se justiça. Aquelas fêmeas, descendentes de sabe-se lá o quê não tem sofrimento e além disso se a tiverem, o apedrejar, cortar, bater o que se quiser, há para todos os gostos e feitios, isso é a purgação, a limpeza daquela alma porca e imunda de quereres.
Pois é, o que não falta para ai é muita e inconfessável hipocrisia.
pelo andamento que isto leva, qualquer dia estamos a assistir a um qualquer programa em que em vez de um touro na arena temos mulheres e nas bancadas pedritas a olharem para elas.
Tenho para mim, que as boas intenções dos lideres religiosos é dúbia, muito dúbia. Porque pouco lhes deve importar o bem, a inocência, quando interesses maiores se levantam e além disso, se isto é para as entidades um simulacro demasiado frequente da hipocrisia, estamos lixadas.
O prazer da filosofia é quebrar certas certezas e abrir espaço para novas perspectivas.
Tenta debruçar-te sobre assuntos que normalmente achas que são demasiado óbvios para serem pensados!!!
Assuntos do género: qual é o meu papel na vida? Ou uma coisa mais, quem sabe .... mais terra á terra, por exemplo, será que sou realmente livre?
Pois já deves estar a pensar, bom está na hora de fechar este blog e pesquisar uma coisa mais interessante ... humm deixa cá ver, por exemplo, como é que foi o último episódio do programa A Bela e o Mestre, ou quem sabe a tertulia cor de rosa .
Se achas que é uma perda de tempo estares aqui, tens bom remédio,sai.São assuntos chatos??? Se não pensares neles agora, com certeza em alguma circunstância da tua vida irás fazê-lo e nessa altura em que te vires obrigado a fazê-lo não irá ser com prazer mas sim porque alguma adversidade assim te o impôs.
Bom mas passada esta pequena introdução, se ainda continuares interessado, lê, reflete e faz alguma coisa por ti, eu pelo meu lado todos os dias, uns piores outros melhores tento fazê-lo.
A liberdade é o oposto de submissão, servidão e sinónimo de independência do ser humano. Mas será que somos realmente livres? Ou é só uma expressão que utilizamos para pensarmos que o somos?
De uma maneira geral, liberdade significa a autonomia de um indivíduo racional, qualificando assim a condição dos comportamentos humanos voluntários.
Desta forma, será a liberdade uma causa expontânea do nosso comportamento e por isso criado por decisão própria ou será algo causado pelo exterior?
Será que uma pessoa ignorante ao fazer escolhas indeferenciadamente, é por isso menos livre que uma pessoa esclarecida?
Será que sendo autonomos e desta forma dando regras a nós mesmos e que estas ao serem seguidas racionalmente são sinónimo de liberdade?
Será que o chamado livre-arbitrio é realizado de forma-pura como pretendia Kant? Será que nos exprimimos realmente, na sua totalidade enquanto ser-per-si acarretando com isto a responsabilidade e a ousadia dos nossos actos?
Ou por outro lado, as nossas acções não são livres?
Sendo para alguns o homem, objecto entre objectos, coisa entre coisas, não possui liberdade de acção porque não é livre. Para deliberar sobre a sua vontade, isto é, puramente não escolhemos o que desejamos ou queremos. Será que o que parece escolha não é antes uma ilusão ocasionada pela mera consciência sobre os próprios desejos? Ou ainda, será que temos uma liberdade tal, que só não somos livres para sermos livres?
Posto isto, depois de tantos serás, será que tiraste alguma coisa de útil para ti???
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. Lágrima